Para a criação plástica do espectáculo Border Control, consideramos quer a relação de complementaridade entre o conceito Border Control como o entendimento, o diálogo e a sintonia do que se pretendeu com o evento Ao Alcance de Todos, no qual este se insere.
Border Control está, em nosso entender, incorporado quer simbolicamente como metaforicamente numa realidade desejavelmente Ao Alcance de Todos colocando-nos e confrontando-nos com problemáticas que nos permitem reflectir sobre o que é pretendido numa sociedade íntegra e integradora, distinta daquela com a qual nos deparamos quotidianamente.
Sendo um projecto artístico e educativo dentro da área do teatro musical, orientado por Tim Yealland e Rachel Leach, que explorou a criação colectiva, quer pelo envolvimento dos 25 utentes da CerciGaia como os formandos do 5º Curso de Formação de Animadores Musicais, fez sentido a formação do colectivo R de Nós responsável pela criação e execução plástica do espectáculo, agregando num único nome um grupo de estudantes e ex-estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde a orientação e coordenação docente ficou a cargo de Rute Rosas.
Assim, e sinteticamente, ponderamos que a liberdade e alcance se atingem ao nível do sonho, do pensamento, da criação, mas que pode ser passível de contágio às realidades sociais, nomeadamente, através da Cultura e de uma Educação pela Cultura.
Border Control foi apresentado no evento anual Ao Alcance de Todos promovido pelo Serviço Educativo da Casa da Música, na Sala 2, nos dias 1 e 2 de Abril de 2010.
© R de Nós, Maio 2010
Border Control
direcção artística
Tim Yealland e Rachel Leach
músicos/actores
V Curso de Formação de Animadores Musicais da Casa da Música, CerciGaia e Factor E
cenários, figurinos e adereços
© R de Nós
Como reage o ser humano quando é observado, literalmente vasculhado e dissecado pelos outros? Que emoções passam por quem sente que alguma suspeição pode recair sobre si – ao passar, por exemplo, pelo posto de controlo de um aeroporto? Este é o domínio de Border Control, um teatro musical que metaforiza o modo como a sociedade encara quem é diferente. Resultante de um projecto artístico e educativo orientado por Tim Yealland e Rachel Leach, o espectáculo envolve cerca de 25 utentes da CerciGaia, instituição de apoio a cidadãos com diferentes limitações mentais. A eles juntam-se os 15 formandos inscritos este ano no 5º Curso de Formação de Animadores Musicais do Serviço Educativo da Casa da Música. Border Control resulta ainda de uma parceria com a Faculdade de Belas Artes do Porto. Neste contexto, estudantes e ex-estudantes das unidades curriculares de “Cenografia” e “Arte e Espaço” foram desafiados a criar a estrutura cenográfica de um espectáculo que integra música, teatro e movimento.
Serviço Educativo da Casa da Música
Border Control foi criado por dois grupos com competências mistas que trabalharam em conjunto e ao lado de profissionais. As sessões incluíram escrita de canções, dança e teatro improvisados, para além de trabalho com instrumentos. A peça foi criada também em colaboração com alunos de Belas Artes e muitas das decisões cenográficas influenciaram a história da nossa peça. O processo de criação foi rápido, inclusivo e alegre. Os temas explorados na peça baseiam-se na ideia de que tomamos muitas das liberdades da vida moderna como garantidas. Para algumas pessoas, questões como viajar atravessando fronteiras, concretizar os seus sonhos ou mesmo transportar um velho guarda-louça para casa podem ser problemáticas!
Quanto ao enredo, é dado um guarda-louça a um homem que tenta levá-lo para casa. Precisa de ajuda. É apanhado na hora de ponta, chega a casa exausto e adormece como os outros. Todos os sonhos que assolam a noite apontam para a necessidade de atravessar a fronteira, mas infelizmente não temos dinheiro nem bilhetes.
Como que por magia o guarda-louça contém-nos e vamos para o aeroporto. Quando passamos pelo detector somos parados e enviados para uma sala de interrogação, onde nos são colocadas questões às quais é impossível responder. A tensão aumenta até que, finalmente, nos refugiamos na realidade da nossa imaginação, a única coisa que realmente nos pertence e que é livre.
Tim Yealland
Border Control - um limite do controlo que é indissociável da vida, particularmente pela relação que existe entre a elasticidade que lhe é inerente e o controlo de cada um. Por mais elasticidade que haja, a barreira persiste, aprisiona... resta-nos a liberdade de criar e de sonhar.
O projecto resulta da interacção desenvolvida no interior de um grupo heterogéneo e sobretudo humano.
A convivência e o diálogo estabelecido ao longo de cerca de quatro meses congregou num grande grupo a desenvoltura fascinante de cada um destes intervenientes, possibilitando a incorporação de todos no processo de trabalho de um conjunto de profissionais nas áreas do teatro, música e artes plásticas, cujas práticas e experiências partilhadas ao longo de vários ensaios, culminam na apresentação de um teatro musical que experimenta materializar o resultado das ligações estabelecidas entre realidade, fantasia e o sonho.
© R de Nós
Ao Alcance de Todos 2010
Música, Tecnologia e Necessidades Especiais
A importância da música na reabilitação e integração dos cidadãos com necessidades especiais materializa-se em vários eventos que, de 1 a 3 de Abril, decorrem na Casa da Música sob a designação Ao Alcance de Todos. Espectáculos, workshops e conferências validam uma iniciativa com que se pretende dar maior visibilidade pública a uma questão de dimensão humana, social e artística. Reflectindo o trabalho continuado do Serviço Educativo da Casa da Música nesta área, em cada edição do Ao Alcance de Todos são apresentados diversos projectos desenvolvidos ao longo de meses junto de instituições de apoio a estes cidadãos. Este é também um espaço de debate entre profissionais que, directa ou indirectamente, lidam com a diferença: cruzam-se perspectivas e apresentam-se novos processos de trabalho que associam Arte, Tecnologia e Necessidades Especiais. Neste contexto, destaca-se este ano uma conferência internacional da RESEO – European Network for Opera and Dance Education. Ainda que mais vocacionada para um grupo específico, esta iniciativa merece a atenção do público em geral, que poderá assistir, designadamente, à estreia de Viagem e Border Control, dois espectáculos que reúnem artistas profissionais e pessoas com necessidades especiais.
Serviço Educativo da Casa da Música
© R de Nós
A formação do colectivo R de Nós surge pela relação estabelecida entre Rute Rosas e um grupo de estudantes, ex-estudantes e equipa técnica da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Este projecto inicia-se com o convite que foi dirigido a Rute Rosas como Artista Plástica - Escultora pelo coordenador do Serviço Educativo da Casa da Música, em Novembro de 2009, para conceber e realizar a cenografia, adereços e figurinos para a peça Border Control inserida no evento Ao Alcance de Todos, 2010.
Após a apresentação da proposta e dos pressupostos e princípios enunciadores do Alcance de Todos, Rute Rosas, enquanto Docente da FBAUP, tomou a iniciativa de propor um protocolo entre a Casa da Música e a Faculdade de Belas Artes com o intuito de possibilitar a inclusão do projecto Border Control nas Unidades Curriculares Cenografia e Arte e Espaço das Licenciaturas de Artes Plásticas. Esta proposta pretendeu ser e foi uma possibilidade de participação na criação de um projecto artístico concreto, potenciando relações com outras instituições e principalmente introduzindo os jovens no âmbito profissional em áreas da sua formação académica ou em outras que apõem a sua formação enquanto seres humanos e criadores.1
Deste modo e, sucintamente, iniciou-se o processo protocolar entre dois serviços educativos, com a coordenação docente de Rute Rosas.
Das turmas designadas, vários alunos responderam à ideia inicial de criação plástica lançada em reunião com Tim Yealland e Paulo Rodrigues, em Dezembro de 2009 na FBAUP.
Após informações fornecidas, elementos visionados em aulas, pedidos de relatórios aos estudantes acerca do conceito Border Control, visita guiada à casa da Música, 1º ensaio com todos os elementos participantes, clarificou-se o método de trabalho e começaram a surgir as primeiras ideias, o envolvimento dos interessados, as reuniões de trabalho extra-curriculares . Os outros participantes, ex-alunos da FBAUP, integraram o grupo por iniciativa própria. Em Fevereiro o grupo de trabalho estava definido.
Durante estes meses proporcionou-se o contacto e diálogo entre os vários intervenientes da criação do espectáculo através de vários tipos de ensaios envolvendo actores, músicos, direcção artística e o grupo. Terá sido no decorrer desse tempo e dessas participações que, espontaneamente, se foi construindo o colectivo que acabaria por tomar o nome de R de Nós.
Assim, e por motivos de espaço gráfico, o Serviço Educativo da Casa da Música propôs que na brochura do Alcance de Todos figurasse apenas R de Nós e que na folha de sala do Border Control figurassem todos os nomes, quer do R de Nós, como de todos aqueles que participaram e integraram a peça de teatro musical Border Control.
1Importa referir que nesta altura do ano lectivo (em Dezembro/Janeiro de 2010) já não seria possível tornar o projecto curricularmente obrigatório na U.C. Cenografia, sendo que os estudantes tiveram a possibilidade de optar pela sua participação, o que não aconteceu com os estudantes inscritos na U.C. Arte e Espaço (esta foi uma proposta de trabalho inserida no plano curricular, independentemente da participação de todos os inscritos).